terça-feira, 9 de setembro de 2008

Arte como polêmica

O ataque à Choque Cultural é polêmico e rende uma discussão eterna, que começa pela velha pergunta "o que é arte?", passa pelo conceito específico de street art e não tem um final à vista.

A verdade é que o fato tem muitos lados e eu vejo fundamento tanto no ataque quanto na indignação dos artistas, dos donos da galeria e de todo mundo que tachou o ato como puro vandalismo.

Graffiti é arte, piXo também. Se não no campo plástico, no da tipografia. Isso tudo analisando simplesmente a forma e o resultado fora do contexto social e político em que eles atuam, obviamente.

Quem estiver disposto a enxergar o lado do "mal", pode ver que os piXadores usam do vandalismo para fazer valer todo seu caráter subversivo e defender sua classe. A classe dos que nasceram na marginalidade, dos que usam a rua como vitrine da sua expressão maior, como válvula de escape de todas as suas angústias, como o único lugar onde é possível cravar seu nome em letras garrafais para todo mundo ver, sem pedir nada em troca.

Levar tudo isso para dentro de uma sala com ar condicionado, champanhe e canapés, à mercê de um preço estabelecido que gera muito mais lucro ao dono do estabelecimento e muito menos ao artista, e ainda ir parar na sala de um playboy qualquer, vai contra todos os preceitos da street art. Ainda mais para uma galeria que se entitula "espaço para arte underground".

Por outro lado, o ataque pode esconder uma inveja , uma vontade reprimida de ter sua expressão valorizada, seu nome escrito em uma fonte mais convencional na etiqueta da peça ou na página do jornal, reconhecido simplesmente como um artista ao invés de um marginal. Ou não.

Quem conseguiu ganhar um troco e um nome no meio artístico com peças na galeria não merece ter sua arte destruída. Nenhum artista merece, e todos têm direito de fazer o que quiserem com suas coisas. Vender ou não é uma opção, e como disse o Chubas, os donos das peças avariadas deveriam aproveitar para vendê-las agora pelo dobro do preço.

Mas essa discussão é velha e sempre invadiu os campos de todos os tipos de arte. Ou não vão xoxar a gente no dia em que o Comodoro tocar no Faustão?

3 comentários:

ordea disse...

Fueda fueda o que aconteceu, concordo plenamente com o ponto de vista, é preciso lembrar que a arte contemporânea atualmente está "avariada" - me apropriando do termo - e "avaliada" não propriamente pela sua valorização estética ou questionadora, mas pelas comodities.
Recentemente estava lendo uma matéria que falava justamente sobre quem dita as regras de quanto vale o show. E para a minha infelicidade o artista é o último a meter o bedelho. Cabe aos marchands, galeristas, e "colecionadores" especularem, rotularem e leiloarem as obras dos outros. Eles estão mais interessados em escutar do que ver.
O comércio da arte tá parecido com a bolsa de valores!! Nesse sentido acho válido o posicionamento dos pixadores, mas acho também que eles não precisavam ter fodido o trabalho dos outros, porque nem todo mundo é igual, pensa igual. É uma imposição de postura, isso complica, vira quase preconceito ou despeito, como vc. mencionou, e daí, a discussão corre o risco de se perder no meio do caminho.

Luzinha disse...

melhor foi a generalização do meu pai sobre o assunto quando me mandou o link da folha:

- pichador é o grafiteiro que nao sabe desenhar??

Alex Senna disse...

teve gente q sem ao menos perguntar pra própria galeria, afirmou q a "manifestação" foi encomendada pela choque. só quem conhece o edu, a tia mari e o baixo pra saber o trampo q foi levantar aquela galeria. foda.