quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

PsychoBobCharles


* "Gostou, Roberto?". "Do caralho!".

Responda rápido: qual a semelhança entre o Rei Roberto Carlos e a banda de psychobilly The Cramps, além do show de horror? Se você pensou "nada", tá na hora de esquecer o terno branco, o brinco de pena, o fim de ano na Globo, as rosas beijadas, o Nossa Senhora me dê a mão e o verde-e-amarelo (azul e branco também).

Antes de mais nada, o maior cantor do Brasil é um visionário. Vasculhando os empoeirados baús da nossa música popular, encontrei uma relíquia mais preciosa que qualquer múmia de freira dormindo de conchinha: a faixa "Noite de Terror", do álbum Roberto Carlos Canta Para a Juventude (1965).

Apesar da canção estar cronologicamente posicionada na intersecção do punk (final dos anos 70) com o rockabilly (década de 50), o gênero psychobilly foi usado pela primeira vez por Johnny Cash em "One Piece At Time", sucesso do Top Ten de 1976. Ou seja, 11 anos depois.

Inspirado na genialidade daquele capixaba que ainda nem príncipe era, o Cramps - uma das maiores influências do Comodoro - lança algo surpreendentemente parecido em Bad Music For Bad People, de 1984. E é claro que, depois de toda essa descoberta, somos obrigados a fazer um cover do Rei, com todo respeito que Sua Majestade merece.

Quando ficar pronto eu posto aqui. Por enquanto, confira comigo no replay: Noite de Terror e Human Fly.



De bode do monótono mundo animal

Enquanto alguns queimam dinheiro e documentos para viver uma vida selvagem no meio do mato, um ilustre morador do interior do Sergipe preferiu fazer o caminho inverso - e acabou virando celebridade.

Tudo começou quando Joélio comprou um bode para fazer uma buchada, mas desistiu da idéia ao perceber que o animal tinha algo de diferente. Livre, leve e solto pela cidade de Riachão, o bode Bito fazia amigos por onde passava. O carismático mascote era figura fácil nas colunas sociais da região e não deixava de comparecer a um evento sequer, da missa de domingo à quermesse de São João.

Certa vez, uma juíza invejosa e mal comida decretou a prisão de bode Bito, determinando que todos os animais fossem retirados da rua. Privado de seu maior prazer, Bito perdeu peso e ficou deprimido. Porém, após muitos protestos, a decisão foi revogada e a alegria devolvida à cidade.

Bode Bito curtiu sua vida de pop star até os 20 anos de idade. E quando o sonho acabou, a população de Riachão resolveu eternizar sua passagem pelo mundo com uma bonita homenagem.

* Post dedicado à minha amiga Adori, que faz anos essa semana.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O mais português dos italianos

- Seu Giovanni, a gente tá com um pobreminha no folheto novo.
- Catzo... que que foi?
- Já pusemos todos os pratos, molhos, entradas e tudo que tem no cardápio. Mas tá sobrando muito espaço no verso.
- Mamma mia, que falta de imaginação. Deixe-me ver... Já sei: bota a área de entrega. Mas avisa que a gente também entrega fora da área.

Magic Bus



Olhando assim, de longe, o protagonista do filme que vi ontem até lembra o Ribamar, astro do post anterior, em alguns momentos. A diferença é que o auto-batizado Alexander Supertramp optou pelo mais primitivo estilo de vida aos 23 anos, encorajado por traumas familiares. E que o refúgio do andarilho foi o Alasca, e não Trancoso.

O primeiro dos vários méritos do roteirista, diretor e produtor Sean Penn foi realizar um filme de 2h20 que não me obrigou a remexer na cadeira do IG Cine o tempo todo, como as longas produções costumam fazer (tá, nem é tão longa assim, mas eu me sinto desconfortável no cinema depois de 2 horas sentado naquela cadeira).

Na Natureza Selvagem pode parecer uma proclamação hippie fora de época, mas vai muito além. Toca sentimentos comuns a qualquer indivíduo, como liberdade, obrigações, relações com pais e irmãos, com a natureza, com a carreira profissional, com o dinheiro, e com a questão mais profunda que é a própria existência.

Eu estou longe de ser um freak. Aliás, não tenho nada de freak. Mas o Supertramp me fez lembrar de mim várias vezes. O choque de sentir-se preso a uma série de convenções é duro. Não é nada que muita gente não sinta, é uma fase da vida como outras, eu tenho que saber lidar com isso, ok. Mas que diferença faz? Você pode não ver, ou até achar normal, mas a verdade é que, salvo lóquis como o amigo Supertramp, seu destino já está mais ou menos rascunhado. E isso definitivamente causa arrepios em algumas pessoas.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

O que se vê no mirante

Depois de passar 2 meses organizando o festival Brasil NoAr em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife, o broder Roberio Pitanga passou alguns dias hospedado em casa. E antes de embarcar de volta a Barcelona, o soteropaulistano mais famoso das Ramblas deixou uns presentinhos, como este vídeo feito no mirante de Trancoso.

O figura do vídeo mora na Bahia e atende pelo nome de Ribamar. Comunista, era guerrilheiro da MR-8 de Carlos Lamarca. Já foi preso, torturado, jurado de morte e escapou de uma tentativa de assassinato ao defender um golpe de facão na cabeça e perder metade da mão direita. Aos 60 anos não enxerga mais nada, mas tem muita história para contar e, como vocês podem ver e rever, belas canções para cantar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

FURO! Cansado de correr, Femônimo sonha em virar uma "criança insolente"



De muletas e com o joelho esquerdo em frangalhos, o atacante Gornaldo deixou o hospital em Paris admitindo a possibilidade de pendurar as chuteiras e partir para outro tipo de atividade. "Essa lesão) Foi um golpe duro, bastante duro, que não esperava em nenhum momento. Meu coração diz que tenho que voltar a jogar, mas meu corpo deu sinais de que está muito cansado e que sofreu bastante", disse o Femônimo.

Questionado sobre seu futuro, o craque surpreendeu a legião de fãs e jornalistas que se aglomerava em frente ao hospital. "Apesar de boleiro, não gosto de pagode, sertanejo ou axé. Meu negócio é o velho e bom rock n' roll. Se rolasse um convite para tocar no Comodoro, não hesitaria em encerrar a carreira na minha banda do coração".

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Pela volta do futebol chitão



Saudoso dos tempos em que imponentes bigodes desfilavam estilo e elegância pelos gramados – gênios como Zenon e Rivellino difundiram as tradicionais pelugens do buço em todo o mundo -, passei algum tempo pensando no motivo que teria levado à extinção alguns ícones do universo fashion futebolístico.

Hoje os jogadores mais parecem robôs pré-programados para correr freneticamente de um lado pro outro, parar qualquer boa jogada com falta e levantar os braços para reclamar com o juiz. Usando tatuagens com nome de parentes no antebraço, costeletas finas e cabelos milimetricamente delineados a cada dia, os protagonistas do que antes era um espetáculo de amor à camisa e à originalidade estética se multiplicam em série, sem qualquer particularidade, de norte a sul do Brasil.

Após dedicar horas de reflexão a essa inquietante questão, um certo corte de cabelo invadiu minhas lembranças para matar a charada à queima-roupa. O futebol nunca mais foi o mesmo porque simplesmente destruíram seu maior patrimônio: os mullets.

Não dá pra falar em futebol de verdade sem falar dos mullets. Não dá pra considerar jogador de futebol alguém que, em algum momento da carreira, não tenha ostentado em sua cabeça a consagrada equação “repicado em cima + batidinho do lado + compridinho atrás”. Pobres robôs… Nunca provarão a experiência inigualável de sentir aquele volume generoso de cabelo dançar pela nuca como bandeiras na arquibancada, de lá pra cá, a cada passo dado na comemoração de um gol.

Você pode estar se perguntando o que eu tenho a ver com isso. Bom… Passados 18 anos, tenho nesse blog de baixo a oportunidade de prestar homenagem ao mullet mais glorioso da história do maior esporte do mundo. O mito, o deus, o libertador, o talismã. Com vocês, um trecho da reportagem do Globoesporte.com sobre o eterno Tupãzinho.

“Os cabelos fartos de outrora não são mais os mesmos. O fôlego tornou-se um aliado para organizar churrascos. E a profissão é bem diferente da desempenhada na década de 90. De amuleto do Corinthians, Tupãzinho virou empresário do ramo infantil. Não perdeu o carisma, ainda é presa fácil de caçadores de autógrafos nas ruas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. No entanto, o talismã da Fiel parou de respirar futebol. É verdade que bate pelada terça, quinta e sábado. Mas, agora, tem como principal ocupação uma fábrica de fraldas descartáveis e também ajuda um instituto de crianças com câncer, ao qual destina parte dos lucros”.


* Na foto, o deus Tupã posa ao lado de seus inspiradores e decreta: estilo, ou você tem, ou você não tem.

Tinqüina



A cada seis meses, o salão de festas do Edifício Barão de Lisboa recebe o evento social mais importante do condomínio: o sorteio das vagas da garagem. O rodízio é feito porque existem vagas boas, vagas mazormeno, vagas ruins e vagas inutilizáveis. E quem pega uma dessas é obrigado a passar meio ano no perrengue, como aconteceu comigo no último sorteio.

Dos 64 apartamentos do prédio, a bolinha do 161 teve a manha de ser a última - isso mesmo, a última - a sair das mãos do síndico folgado que tem cara de buldogue com vira-lata, que não me cumprimenta ao entrar no mesmo elevador, e que quando eu digo bom dia, o máximo que recebo em troca é um grunhido canino. A vaga fica atrás do lugar escolhido pelo japonês do 14º, e eu preferi passar seis meses estacionando na rua a arriscar manobrar o reluzente Honda Fit do japa.

Pois bem. Sob chuva torrencial, laquês, chinelos Ryder, calças de moleton e semblantes apreensivos, o sorteio desta quarta-feira estava especialmente empolgante. Toda a fauna reunida, espécies da mais rara estirpe, aguardavam ansiosamente pelo que a bolinhas estavam para revelar.

O cenário era de um bingo no Hotel Fazenda Jerubiaçaba de Águas de São Pedro durante o feriado de Finados, e para mim, um momento tenso. Precisava desesperadamente de uma vaga boa desta vez, e confiava no meu santo, já que ele cansou de se foder junto comigo ao chegar na chuva, carregar os 13 saquinhos de compras do supermercado com as mãos ou simplesmente não encontrar vagas próximas na rua.

Bolinhas no saco e todos olhando fixamente para o buldogue, que se sente o máximo ao ganhar minutos de fama e glamour na Assembléia Extraordinária. Afinal, são as patas daquele verme que traçarão os destinos da comunidade carente do Jardim das Bandeiras pelos próximos 180 dias. 

Mexe daqui, mexe dali, e as bolinhas vão saindo, uma a uma. Eu já começava a me conformar com uma nova decepção quando, depois de uma dúzia de felizardos, chega o instante glorioso. Com as mãos trêmulas e as têmporas úmidas, escuto o número mágico sair daquela boca raivosa: um meia um. Tinqüina!

Comemorando por dentro com uma euforia corintiana, como se fosse um gol decisivo na final, me concentro para escolher a vaga com calma e precisão antes de fixar meu olhar profundo e vingativo nos olhos cinzentos do velho buldogue. E, como num passe de mágica, aquele animal rabugento e cheio de berne passa a ser o cãozinho amistoso de MSN que selou a minha sorte. 

* Ao fundo,  o síndico expulsa o morador do 162 do sorteio por falta de pagamento. Nesse momento ele ainda era buldogue. 


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Um príncipe na estrada



Para quem ainda não viu, esta é uma das maiores pérolas que a TV brasileira e o YouTube já produziu e reproduziu, respectivamente.

Panorama
: um programa para senhoras que não têm o que fazer, desses que passam à tarde e matam a ânsia incontrolável por fofoca das milhares de tias Odetes e Margaretes que infestam nosso país; um apresentador bem filho da puta; uma senhora simples, bonita e surpresa; um velho príncipe que vira sapo; e, por fim, uma saia justa para caminhoneiro nenhum botar defeito.


Pra você, quem é o vilão responsável pelo fim desse lindo conto de fadas?

a) Seu Manuel
b) Britto Junior
c) Testosterona
d) O ofício de caminhoneiro
e) A monogamia
f) Outro