Estiagem

Uma sexta-feira esquisita, um fim de semana inteiro sem vontade de sair e um domingo sem ressaca. Fato incomum que me deixou cá pensando - não com os meus botões, já que a calça de moleton que uso como pijama não tem nada disso - sobre a falta de boa música nova, boas festas e bons eventos a que normalmente temos acesso nessa cidade frenética.

Estamos bem próximos da metade de 2009 e até agora não consigo pensar em discos lançados este ano que tenham surpreendido. Tirando o Frusciante, que saiu em janeiro, e agora o novo do Sonic Youth, que nunca decepciona, qual álbum incrível posso colocar na estante dos preferidos? Qual banda nova me faz acordar com vontade de botar o som no talo enquanto enxergo o tapete de prédios pela janela gelada do 16º andar?

A cruel seca da entressafra ataca as pistas. Hoje em dia, as festinhas que fazem o povo dançar com gosto são na casa de amigos, com DJs amadores improvisados, ou aquelas periódicas que tocam música velha e boa, como a latina Cha Cha Cha e a funky-soul Talco Bells. Ao contrário de sempre, hoje em dia acho quase impossível escolher um lugar para ir pelo som, pelo DJ que vai tocar ou porque simplesmente nessa casa a noite é sempre boa.

E quando penso que as melhores baladas são os grandes shows e o grandes festivais, o semestre me faz lembrar do Radiohead. E só. A não ser que você arranje muito boa vontade para incluir outras velharias que há muito tempo não surpreendem mais ninguém, como Kiss, Motörhead e Skatalites.

O vazio é tão grande que os personagens que povoam a night paulista no final dos anos 10 passam o tempo no clube brincando com fantasias e adereços infanto-carnavalescos. Armações coloridas sem lentes, máscaras de bichos, poses para foto e o mais importante: o orgulho de ver tudo postado no dia seguinte.

Sei que tudo isso pode ser reflexo do tempo. Estou ficando velho, ranzinza e exigente. Mas se este fosse mesmo um veredito absoluto, por que estaria o velho nostálgico ansiando publicamente pelo frescor das boas novidades?